quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Organizar a vizinhança Global...

A nossa época é a época das alterações climáticas. É a época em que a humanidade se defronta com uma colisão massiva e sem precedentes, entre a nossa civilização e o planeta que habitamos. E no jogo entre probabilidades, incertezas e eventuais certezas, entre a pedagogia da catástrofe e o cepticismo, parece que nos resta apenas a convicção que nos enganámos completamente em relação ao ambiente. As alterações climáticas trouxeram consigo a definitiva certeza de que a estratégia de “ver para crer”, de “provar para validar”, falhou na rede de complexidade da natureza.

Só quando os efeitos do aquecimento global se exercem já de forma concreta, e tornam as eventuais medidas de correcção incertas e de limitada eficácia, é que se toma consciência de que este é um processo que está fora das nossas jurisdições. Lidamos com um sistema complexo, cumulativo e intricadamente interdependente. Sabemos hoje que globalização, interdependência e complexidade sempre existiram na natureza, e que esta não esperou que o homem as decifrasse para interagir como um único corpo vivo. O que se discute hoje já não é se o planeta está ou não a aquecer, mas sim se as águas vão subir um ou cinco metros, em dez ou cinquenta anos, por hipótese. Parece que o que é relevante é a que velocidade e a forma como aquece, e não o facto, já aceite de estar a aquecer. Mais uma vez, a mesma lógica de domínio e controlo do tempo e da realidade parece sobrepor-se ao único trabalho que podemos realmente fazer, que é organizar a nossa vizinhança e interdependência global, e conferir sustentabilidade organizacional a um futuro que exige a prossecução de interesses comuns. 

Se é necessária uma outra revolução industrial, que passa obrigatoriamente pela descarbonização da economia, parece-nos que os ajustes tecnológicos sem mais, não resolvem um problema de base. A partir do momento em que sabemos que entre o espaço físico da crusta terrestre, o mar, a atmosfera e os seres vivos existem essas profícuas e intricadas interligações que sustentam a vida e que fazem o planeta funcionar como um único organismo vivo, tal facto transforma o nosso ultrapassado conceito de vizinhança fronteiriça numa vizinhança verdadeiramente global. Todos somos funcionalmente dependentes de bens que circulam de forma algo peregrina a nível planetário, e em que nenhum cidadão ou estado se pode excluir do seu consumo, e todos nós  os podemos afectar de forma positiva ou negativa.

A “tarefa monumental” que séc. XXI nos impõe será de a conseguirmos definir o interesse comum, definir quem o defenderá, sob que autoridade e com que meios. Esta mútua interdependência funcional de bens globais requer uma inevitável administração comum.

O CONDOMÍNIO DA TERRA tem como objectivo conciliar uma primária necessidade humana de existência de um espaço vital, a territorialidade, com a unidade interdependente do planeta que os homens habitam, possibilitando a coexistência de soberanias autónomas num espaço colectivo, ou seja, um poder político, supremo e independente, relativo à fracção territorial de cada estado, epartilhado, no que concerne as partes insusceptíveis de divisão e que por isso são inevitavelmente comuns.

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